Margaret Pelicano
quarta-feira, 23 de janeiro de 2008
NAUFRÁGIOS
Sei que tu queres saber de meus naufrágios,
adocicar tua existência com o sabor da vingança,
sumir no mapa, deixar-me em deriva mansa
possuir da enganação o sufrágio...
Destemido, acha que o que está no mundo
é só para mim, mais ninguém,
e a grande verdade, meu amigo,
é: o que está no mundo está para ti também!
Se hoje colo meus cacos, perco amuradas,
rasgo minhas velas, recolho os mastros,
derrubada pode ser tua vida, mesmo aquém!
Se tento me curar da desilusão, mesmo no fundo,
minh'alma sobe aos astros e de sabedoria me inundo,
sinto o mar batendo em mim, sou livre nas fráguas!
II
Quisera um dia encontrar-me contigo de novo
e como polvo envolver-te; até matar
esta inconstância! E ver-te homem! Sorvo
do futuro, áulicos desejos de te abandonar...
Assim saberás o que é dor! Morro
na esperança de que isto aconteça
e acabemos com o teatro que está a me torturar!
Torço: um dia estarei na arquibancada
assistindo o teu versejar falso, vazio
de conquistador barato e leviano
que levou-me a águas profundas e frias...
Desta tragédia então, lembrar-me-ei,
foi bom enquanto durou e eu amei,
tu não existes mais, enterrado estás nos oceanos!
Brasília - 21/01/2008
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