Margaret Pelicano
domingo, 10 de fevereiro de 2008
QUANDO LAURINHA ERA PEQUENA...
Só Se Muda o Endereço, 'Os Causos' São os Mesmos
Quando Laurinha era pequena, deitáva-mo-nos numa rede e ela insistentemente me pedia histórias. Não queria ouvir as tradicionais Branca de Neve, Os Três Porquinhos, A Gata Borralheira, insistia nas novidades.
Ai meu saco, havia momentos em que eu só queria descansar, eram férias não queria inventar nada. Mas, ela pedia e pedia.
As tardes em Minas eram lindas, um verão de céu azul incalculável, os pardais voejavam pela garagem alegrando o dia e a criatividade me invadia. Eu começava: - " era uma vez um passarinho" que se apaixonou por uma passarinha. No auge do amor...Laura perguntava: - vó, o que é auge? Eu explicava e continuava:- ele a pediu em casamento.
Ela muito bonitinha, apanhou com o bico as flores de laranjeira e fez uma grinalda. Dos varais de D.Maria, apanhou os fios brancos das roupas velhas e costurou um véu. Teceu um vestidinho de noiva e foi, alegremente, se encontrar com ele na matriz da cidade, para Jesus abençoá-lo.
O passarinho lá estava: de uma meia velha havia feito uma casaca, da tampinha do guaraná a cartolae na lapela...- vó, o que é lapela? Eu respirava fundo, explicava que era a gola da casaca. Na lapela, colocou um raminho perfumado de mirra e uma florzinha de maçã.
Os dias se passaram, ela sentiu cólicas, como sua mãe, Laurinha... - ah! vó, 'tadinha'! Eu já impaciente: - páre de interromper, Laurinha! E ela respondia: - está bem, continue vó.
O passarinho preocupado, fez massagens na barriguinha dela até que ela griou: - vou botar ovinhos! E saiu correndo para o ninho.
O tempo passou, ela chocou. Dos 3 ovos, nasceu só um filhinho. Um ovo caiu e quebrou, outro...gorou.- Ah! não vó, 'tadinha', só nasceu um filhinho?- Só Laurinha, infelizmente...
Amanhã a gente continua a história, já é noite e ela reclamava, insistia. Eu precisava repôr as baterias para o outro dia...
II
Após os passeios pelas águas minerais das Gerais, a gente lanchava na casa de minha irmã, banhava e ia colocar as redes lá fora, onde corria uma brisa fresquinha que vinha das montanhas.
Eu me esquecia, mas ela não.
- Vó, conte do bebê da pardalzinha? - Ah! não Laurinha, hoje não... Porém, ela com aqueles bracinhos que me embrulhavam com carinho, como até hoje o faz, e uma vozinha melodiosa, e cheiros e gostosuras que só um anjo sabe ter, pedia: - Conte vó!
Eu então falava:- O passarinho foi crescendo em ternura e graça, como o Menino Jesus. Mamava pelo biquinho, era uma gracinha, comia minhocas que o pai trazia, bebia água de flor de pera, suco das jabuticabas maduras. Foi ficando forte.
Certa vez, viajou com os pais para o litoral, levando sua malinha repleta de brinquedos, no bico. No primeiro mergulho, quase se afogou, não era filho de pato para saber boiar na água, nem de gaivotas, enfim... - O que são gaivotas? - Ai, Jesusinho do meu coração...e ríamos muito.
- Vó dentro da malinha do passarinho só tinha brinquedos? Ele não sentia frio? A vó mais coruja do mundo dizia: - havia calça de veludo para as noites, um 'pulover', meias, um gorrinho, tudo na mais perfeita ordem, Laurinha.
E assim os dias se passaram. Hoje recordamos com imensa saudade das histórinhas: o passarinho era levado, de vez em quando levava palmadas; ficava de castigo quando respondia para a mãe, mas era excelente aluno, como você é Laurinha.
As histórias se repetem. Como dizem as pessoas: só se muda o endereço, 'os causos' são os mesmos! E assim, como a vó do passarinho (que aparecia no terceiro capítulo) o amava muito, esta vó aqui te ama também, creio que até mais, se isto for possível!
Brasília - 10/02/2008
1 Comentários:
Margareth adorei as estorinhas que você contava para a Laurinha!
Andei copiando para repeti-la as
minhas netas, Aliás agora só a minha pequenininha que irá completar 2 aninhos no proxximo mês. Os outros 3 j´estão grandinho/as.Eu também já inventei muitas estorinhas mas nunca tive a lembrança de escrev^r-las. Parabens.
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