Margaret Pelicano

quinta-feira, 17 de julho de 2008

MÃE - MERECIMENTO ESPECIAL

MAMÃEZINHA QUERIDA
Margaret Pelicano
Fico pensando se Deus quer que eu conte ashistórias que já ouvi ou não, sabem por quê? Escrevi este conto onteme ele sumiu aqui no meu computador, mas lá vai, sou insistente, e acredito que a realidade deva ser reconhecida, discutida, se possível, consertada!...
A mãe descia do alto de cidade todos osdomingos e sentava-se num banco da praça, no centro, com sua renca de filhos. As pessoas saiam da missa e nem observavam o que se passava, tudo em surdina, tudo meio doente, destrambelhado, desequilibrado, pervertido!...
A menina de 5 aninhos, cabelinho comprido, escorrido, rostinho de anjo moreno, saia do grupo e se sentava no banco da frente, onde um senhor, vestido com capa de boiadeiro, fizesse sol ou chuva, estava. Todos os domingos, à noite, no mesmo lugar, na mesma praça...
O bracinho magro sumia naquela capa, e passado algum tempo a menina retornava com as mãos cheias de balinhas que distribuía aos irmãos. Seu rostinho tristonho contrastava com a alegria deles.
Tudo repetitivo, conivente, sem uma palavra. Após esta rotina, a mãe se levantava, recolhia todos os filhos e voltava para casa!
Hoje, mulher feita, linda, a ex-criança, nunca se casou, tem nojo de homem, e é uma estrela que cuida da mãe! Deus que me perdôe, mas nem sei se merecimento tem esta matrona do interior!
Em sã consciência, quem quereria ter uma mãe assim?
Parece que ultimamente, abri as comportas do meu cérebro para falar só de mães abomináveis.
Em 3 dias esta é a terceira narrativa sobre algumas pessoas desqualificadas, absurdamente movidas à barbárie psicológica.
- Mortificar-me para ganhar balinhas! Odiar os homens, ter nojo do outro sexo! Esta a experiência da fome, da pobreza, da humilhação! A troco de que minha mãe permitia isto, meu Deus!
Nunca tocaram neste assunto, mas o trauma está ali, do tamanho do sol, ou seria do tamanho de uma aranha comprimindo o coração?...
Este o desabafo, de uma pessoa muitoquerida, que tinha tudo para ser feliz, para confiar! Restou-lhe adesconfiança no mundo inteiro! Um coração de ouro, mas ouro em pó,diluído nas amarguras.
O perfume forte da dama da noite adentra pela minha janela, faz frio, a lua é cheia, prateada e linda. Meu espírito inspira o cheiro que aprecio e meche com as fímbrias de minha alma. Fico sem compreender o ser humano, as taras, os desencantos que precisarão de muitos anos para serem compreendidos, curados e perdoados.
Brasília - 15/07/2008

Marcadores:

escrito por Margaret Pelicano às 16:31

3 Comentários:

Cara Confreira...
"Ter a alma machucada por séculos" e "Mamãezinha querida" me
impressionaram sobremaneira. As situações não, porém esse cenário da
infância modesta, ...ahhh Margaret, tem tudo a ver.
Abraço afetuoso, Cida (Seccional Santos SP)

17 de julho de 2008 às 16:41  

LINDO O LIRISMO !! EMBORA A CRIAÇÃO LITERÁRIA FALE DE DOR...."Um
coração de ouro, mas ouro em pó, diluído nas amarguras.
O perfume forte da dama da noite adentra pela
minha janela, faz frio, a lua é cheia, prateada e linda."...
PARABÉNS MARGARET BELÍSSIMO TEMA ...
ABRAÇO FRATERNO,
JOYCE

17 de julho de 2008 às 16:42  

Cara Margaret,
"Ter a alma machucada por séculos" e "Mamaezinha querida" me
emocionarasm especialmente.
Beijo em seu coração, Cida

17 de julho de 2008 às 16:44  

Postar um comentário

<< Home

poesias, contos, crônicas, cartas