Margaret Pelicano
sábado, 26 de julho de 2008
O AMOR É SENTIMENTO NOBRE E PRIMEIRO
A ROSCA E OS PÃEZINHOS DE CENTEIO
Margaret Pelicano
Abriu o armário de mantimentos e encontrou lá dentro dois pãezinhos de centeio e meia rosca escondidos entre os gêneros.
Noutro dia, abriu o armário do banheiro, onde se guardam medicamentos que devem ficar à mão. Queria fazer uma bela faxina, jogar os velhos fora, organizar os novos. Encontrou um vidro de 'Artrolive', e curiosa para saber que remédio era aquele, abriu-o e percebeu o vidro cheinho de amendoim torrado, já rançoso. Devia estar ali a muito tempo.
Começou a rememorar situações: quando criança, via Celi esconder comida do marido que não trabalhava, portanto não precisava comer. Com certeza a bebida o alimentava. Amargou o mal estar das recordações, da miséria, da fome roendo o estômago com frequência.
O tempo passou, a família se aprumou, mas Celi, pelo visto, continuava com o grave defeito de esconder comida. Não mais necessitava guardar para dar aos filhos, mas tinha um pavor danado de passar fome, ou de alguém comer aquilo de que gostava. Vivia dizendo: já passei fome demais, agora quero comer tudo o que tiver vontade. Tenho problemas de estômago desde os doze anos, nunca ninguém ligou para minha saúde, daí os alimentos me fazerem mal, mas quero comer! Fome, nunca mais! Como tudo o que tiver vontade!
A filha mais velha tinha verdadeiro horror a este tipo de coisa: a esta preocupação exagerada com alimento, a esconder comida. Preocupava-se por que algumas pessoas da família haviam herdado esta mediocridade. Escondiam doces de que gostavam até que emboloravam e acabavam no lixo. Ninguém os comia, mas escondiam...
O tempo se esvaiu, algumas destas pessoas modificaram o comportamento, mas Celi, Ele não conseguiu mudar muito não.
Algo inexplicável fazia ela sentir uma fome que incomodava? Será que era das vontades que havia passado na infância rigoroza? Experiências de outras vidas?
E esta idéia da fome se espandia: era fome de carinho, de atenção. Mas nunca havia dado carinho aos filhos, veio aprender sobre esta sensação com os netos. Perdera a primeira geração.
Dizem que o amor muda tudo, e deve mudar mesmo por ser sentimento nobre e primeiro. Depois que aprendeu a amar os netos, apaixonou-se pelos bisnetos. Neles ninguém tocava. Por eles daria a vida, daria até a rosca escondida no armário e os pãezinhos de centeio.
Brasília - 25/07/2008
http://momentosdepaznaterra.blogspot.com/
Margaret Pelicano
Abriu o armário de mantimentos e encontrou lá dentro dois pãezinhos de centeio e meia rosca escondidos entre os gêneros.
Noutro dia, abriu o armário do banheiro, onde se guardam medicamentos que devem ficar à mão. Queria fazer uma bela faxina, jogar os velhos fora, organizar os novos. Encontrou um vidro de 'Artrolive', e curiosa para saber que remédio era aquele, abriu-o e percebeu o vidro cheinho de amendoim torrado, já rançoso. Devia estar ali a muito tempo.
Começou a rememorar situações: quando criança, via Celi esconder comida do marido que não trabalhava, portanto não precisava comer. Com certeza a bebida o alimentava. Amargou o mal estar das recordações, da miséria, da fome roendo o estômago com frequência.
O tempo passou, a família se aprumou, mas Celi, pelo visto, continuava com o grave defeito de esconder comida. Não mais necessitava guardar para dar aos filhos, mas tinha um pavor danado de passar fome, ou de alguém comer aquilo de que gostava. Vivia dizendo: já passei fome demais, agora quero comer tudo o que tiver vontade. Tenho problemas de estômago desde os doze anos, nunca ninguém ligou para minha saúde, daí os alimentos me fazerem mal, mas quero comer! Fome, nunca mais! Como tudo o que tiver vontade!
A filha mais velha tinha verdadeiro horror a este tipo de coisa: a esta preocupação exagerada com alimento, a esconder comida. Preocupava-se por que algumas pessoas da família haviam herdado esta mediocridade. Escondiam doces de que gostavam até que emboloravam e acabavam no lixo. Ninguém os comia, mas escondiam...
O tempo se esvaiu, algumas destas pessoas modificaram o comportamento, mas Celi, Ele não conseguiu mudar muito não.
Algo inexplicável fazia ela sentir uma fome que incomodava? Será que era das vontades que havia passado na infância rigoroza? Experiências de outras vidas?
E esta idéia da fome se espandia: era fome de carinho, de atenção. Mas nunca havia dado carinho aos filhos, veio aprender sobre esta sensação com os netos. Perdera a primeira geração.
Dizem que o amor muda tudo, e deve mudar mesmo por ser sentimento nobre e primeiro. Depois que aprendeu a amar os netos, apaixonou-se pelos bisnetos. Neles ninguém tocava. Por eles daria a vida, daria até a rosca escondida no armário e os pãezinhos de centeio.
Brasília - 25/07/2008
http://momentosdepaznaterra.blogspot.com/
Marcadores: familiar
3 Comentários:
MARGARET ADOREIIIIIIII
TENHO VONTADE DE ESCREVER COISINHAS ASSIM ..
PELO MENOS POR ENQUANTO FALTA TEMPO, NÃO IMAGINAÇÃO ( AINDA BEM NÉ ? )
LEMBRANÇAS ? ALGUMAS QUE DÃO HISTORINHAS, COM CERTEZA
BEIJOSSSSSSSSSSS
OILAN
Margaret,
que "quadro" belo / terrível pintado por quem sabe VER o semelhante em suas situ/ações e
não apenas " olhar" com indiferença .!!!
Cumprimentos,
helenarmond
Amei seu texto, vc é muito talentosa, Zena Maciel
Postar um comentário
<< Home