Margaret Pelicano
domingo, 3 de agosto de 2008
Foto da Jabuticabeira - Homenagem à Cida Micossi - Amiga/Confreira/Cappaz
AMANDO UMA ÁRVORE
Margaret Pelicano
A velha jabuticabeira, palco das minhas artes circenses não está mais lá. Emociono-me ao sabê-la derrubada! A cidade cresceu muito e o pomar de meu bisavô foi dividido em lotes e vendidos para construção de casas.
Minhas histórias, agora, só pertencem a mim. Não tenho com quem compartilhar meus medos, minhas ousadias, minhas criancices....
Sempre pedi a ela para não morrer antes de mim, para eu não me entristecer...longa existência humana, breve existência das árvores. Eu a queria como um cedro, ou carvalho velho, destes abandonados em fazendas, com tantas narrativas em cada célula rugosa de velhice. Mas não, derrubaram-na! Aliás, já disse e repito: não reconheço mais a rua da minha infância: tem mais sobrados que gente morando!
Quando minha jabuticabeira era jovem e eu menina, eu me dependurava em seus galhos, ou subia até as pontas mais altas. Lá em cima, as jabuticabas eram mais doces e maiores. Certa vez, resolvi brincar de cirquinho, joguei o corpo para baixo, como os trapezistas fazem, o galho quebrou e as dores nas costas foram lancinantes. Aguentei calada, se não apanhava por tanta travessura.
Eu dizia a ela, ao ficarmos sós: quando morrer, quero que me enterrem sob você, como vejo nos filmes americanos! Americano não tem medo de fantasma, enterra seus mortos no quintal da própria casa, conversa com as lápides, e cuidam dos túmulos com tanto carinho... Quero ser seu adubo e viver abraçada ao seu tronco! Hoje eu diria, quero viver abraçada ao seu espírito. Ou então: onde estão os troncos cortados de você? Quero um deles para pôr na minha casa e em estado de tristeza, ficar sentada sobre você como uma preta velha, inspirando sua fortaleza.
Mas, minha árvore se foi, a predileta, a que tinha jabuticabas do mato, selvagens, que faziam ploc ao estourar a casca e o sumo doce escorria por minha boca à dentro, e sinto vontade de chorar; e uma raiva oculta do progresso, uma faca de dois gumes, melhora algumas vidas, e destrói a muitas!
Estive na Disney, ano passado! No Animal Kingdon há uma árvore que chama a atenção, feita de fibra de vidro, com animais no tronco em alto relevo. Bonita, viu? Porém, jamais, em tempo algum, se equipara à minha jabuticabeira, ou qualquer outra árvore brasileira. E, se não cuidarmos com carinho de nossa consciência crítica, em pouco tempo só teremos árvores de fibra de vidro! Que Deus nos livre e guarde desta irresponsabilidade!
Brasília - 03/08/2008
Margaret Pelicano
A velha jabuticabeira, palco das minhas artes circenses não está mais lá. Emociono-me ao sabê-la derrubada! A cidade cresceu muito e o pomar de meu bisavô foi dividido em lotes e vendidos para construção de casas.
Minhas histórias, agora, só pertencem a mim. Não tenho com quem compartilhar meus medos, minhas ousadias, minhas criancices....
Sempre pedi a ela para não morrer antes de mim, para eu não me entristecer...longa existência humana, breve existência das árvores. Eu a queria como um cedro, ou carvalho velho, destes abandonados em fazendas, com tantas narrativas em cada célula rugosa de velhice. Mas não, derrubaram-na! Aliás, já disse e repito: não reconheço mais a rua da minha infância: tem mais sobrados que gente morando!
Quando minha jabuticabeira era jovem e eu menina, eu me dependurava em seus galhos, ou subia até as pontas mais altas. Lá em cima, as jabuticabas eram mais doces e maiores. Certa vez, resolvi brincar de cirquinho, joguei o corpo para baixo, como os trapezistas fazem, o galho quebrou e as dores nas costas foram lancinantes. Aguentei calada, se não apanhava por tanta travessura.
Eu dizia a ela, ao ficarmos sós: quando morrer, quero que me enterrem sob você, como vejo nos filmes americanos! Americano não tem medo de fantasma, enterra seus mortos no quintal da própria casa, conversa com as lápides, e cuidam dos túmulos com tanto carinho... Quero ser seu adubo e viver abraçada ao seu tronco! Hoje eu diria, quero viver abraçada ao seu espírito. Ou então: onde estão os troncos cortados de você? Quero um deles para pôr na minha casa e em estado de tristeza, ficar sentada sobre você como uma preta velha, inspirando sua fortaleza.
Mas, minha árvore se foi, a predileta, a que tinha jabuticabas do mato, selvagens, que faziam ploc ao estourar a casca e o sumo doce escorria por minha boca à dentro, e sinto vontade de chorar; e uma raiva oculta do progresso, uma faca de dois gumes, melhora algumas vidas, e destrói a muitas!
Estive na Disney, ano passado! No Animal Kingdon há uma árvore que chama a atenção, feita de fibra de vidro, com animais no tronco em alto relevo. Bonita, viu? Porém, jamais, em tempo algum, se equipara à minha jabuticabeira, ou qualquer outra árvore brasileira. E, se não cuidarmos com carinho de nossa consciência crítica, em pouco tempo só teremos árvores de fibra de vidro! Que Deus nos livre e guarde desta irresponsabilidade!
Brasília - 03/08/2008
Marcadores: Carinhos
2 Comentários:
PARABÉNS MARGARET !
BELAS: ÁRVORE E PROSA LÍRICA !
Sim, estejamos atentos as suas palavras além de verdadeiras... são MUITO oportunas, Margaret
Bj fraterno,
Joyce
Querida MEG.obrigada pelo mimo, publicando a foto de minha jabuticabeira em seu blog. Meu filho também gostou de ver.
Cida Micossi
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