Margaret Pelicano

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Dueto com Inês Marucci


'A VELHICE É A QUADRA SEM PRAZER DE TODA A VIDA HUMANA' - Antonio Candido/escritor português

Margaret Pelicano

Não adianta lutar, a gente envelhece!
Por mais que não queira, a gente envelhece!
É como o fim da quermesse:
todos partindo para suas casas,
o leilão de prendas chegando ao fim,
terminou o bingo!
A gente envelhece e esquece...
Muito da energia juvenil se vai,
parece o desmontar da arquibancada, no desfile,
cada figurante vai perdendo suas peças!
Acontece o inesperado:
o corpo dói, a melodia do samba desafina,
a mente se corrói em pensamentos negativos,
a pele coça, se descamando,
lentamente as rugas vem se esfumando
como uma pintura velha,
corroída pelo tempo inexorável!
Depois as rugas se fixam,
o rosto marcado vai mudando
a coluna abandonando a matéria espessa...
A gente envelhece e tem medo de ir embora!
Mas tem que ir!
Lá fora, a vida vai dizendo adeus,
como a Miss Universo, balançando a mãozinha de boneca!
A mente implora pra ficar, mas está partindo devagar,
sem perceber e sofrendo pelo terminar...
E ninguém mais quer nos compreender,
e ter a paciência que tantas vezes já tivemos...
Fomos perdendo os direitos,
o corpo se arrasta cheio de trejeitos,
levantar de uma cadeira é um peso...
E os médicos dizem: -agradeça!
São poucos que chegam na sua idade!
Mas nós queríamos ter a sabedoria adquirida,
e apenas 18 anos, esta é a verdade!...
Porém... o espetáculo está no fim,
e entramos no palco para o último ato,
com os olhos marejados de lágrimas,
fazendo muita gente da platéia soluçar,
tentando dizer que há outras existências,
que voltaremos,
mas é nesta que quereríamos ficar!

Brasília - 26/08/2008
A VELHICE
Inês Marucci
A eternidade cabe numa vida parcelada
de diamantes em fase de lapidação,
que nascem para buscar a luz verdadeira
descartando aos poucos o casulo inútil
visando seu vôo magistral de borboleta.
A velhice é vitória concebida pela vida
a quem em missão suas sementes planta
e se apraz pelos frutos que em seu lugar
os colherá a futura geração imaginada.
É fulgor de calmaria que brota nos olhos,
é deleite por sentir o crescimento interior
compensando o que se perde da aparência,
é alegria de romper sempre o novo ciclo
com a coragem parida na doçura da fé.
A velhice é o treinamento ao desapego,
é cumplicidade aos sentimentos nobres,
bagagem essencial e única para nos céus
da infinitude obter-se o perpétuo brilho.
Quem disse que transições são simples,
que não requerem empenho, suor e dor?
A cada uma todavia Deus capacita o missionário
fortalecendo-o com sonhos e experiências,
desafios que tecem e destecem rugas do destino,
e qual passar de botão a rosal perfumado
almas nascem, crescem na oficina da vida
e ascendem abraçando a luz e a paz perene.

São Paulo - 26.08.08

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escrito por Margaret Pelicano às 14:48

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